No século XVIII, a Inglaterra estava em decadência moral e espiritual. A pobreza era desenfreada, o alcoolismo destruía famílias e a Igreja oficial parecia adormecida, distante das necessidades do povo. Foi nesse cenário que surgiu um homem pequeno em estatura, mas gigante na fé, que montado em seu cavalo, percorreria mais de 400.000 quilômetros para pregar o evangelho e acender um avivamento que mudaria a história: John Wesley.

Fundador do movimento metodista, Wesley não foi apenas um teólogo; foi um organizador brilhante e um evangelista incansável. Sua história nos ensina que a verdadeira fé não fica confinada entre quatro paredes, mas sai às ruas para transformar a sociedade.

"Um tição tirado do fogo"

Nascido em 1703, John era o décimo quinto filho de Samuel e Susanna Wesley. Sua infância foi marcada por um evento dramático: aos cinco anos, a casa paroquial onde viviam pegou fogo. John ficou preso no andar de cima e foi resgatado pela janela instantes antes de o teto desabar. Sua mãe, Susanna, uma mulher de oração e disciplina rigorosa, referia-se a ele como "um tição tirado do fogo" (uma referência a Zacarias 3:2), acreditando que Deus tinha um propósito especial para a vida do menino.

O Fracasso Antes do Sucesso

Na Universidade de Oxford, John e seu irmão Charles formaram o "Clube Santo", um grupo dedicado ao estudo bíblico metódico, jejum e visitas aos presos. Por causa de sua disciplina rigorosa, os outros estudantes zombavam deles, chamando-os de "Metodistas".

Apesar de toda a sua religiosidade, Wesley sentia um vazio. Ele viajou como missionário para a Geórgia (EUA) para converter os nativos americanos, mas a viagem foi um desastre total. Ele voltou para a Inglaterra deprimido e confuso, escrevendo em seu diário: "Fui à América para converter os índios, mas, oh! Quem me converterá a mim?".

Durante a viagem de navio, ele ficou impressionado com um grupo de morávios (cristãos alemães) que cantavam hinos tranquilamente durante uma tempestade terrível, enquanto Wesley estava aterrorizado com a morte. Ele percebeu que eles tinham algo que ele não tinha: a certeza da salvação.

O Coração Estranhamente Aquecido

A virada aconteceu na noite de 24 de maio de 1738. Relutante, Wesley foi a uma reunião cristã na rua Aldersgate, em Londres. Enquanto alguém lia o prefácio de Lutero à Epístola aos Romanos, algo sobrenatural aconteceu. Wesley escreveu em seu diário a frase que se tornaria famosa:

"Senti o meu coração estranhamente aquecido. Senti que confiava em Cristo, somente em Cristo, para a salvação; e uma garantia me foi dada de que Ele havia tirado os meus pecados, até mesmo os meus, e me salvado da lei do pecado e da morte."

Ali, a religião do esforço humano morreu, e a fé na graça de Deus nasceu.

Pregando Onde o Povo Estava

Impedido de pregar em muitas igrejas anglicanas por causa de seu entusiasmo "excessivo", Wesley fez algo radical: ele foi para os campos. Seguindo o exemplo de seu amigo George Whitefield, ele começou a pregar ao ar livre, para mineiros de carvão, operários e camponeses.

Sua famosa frase, "Considero o mundo todo como a minha paróquia", resumia sua missão. Ele pregava às 5 da manhã para os trabalhadores antes do turno, enfrentava multidões hostis e viajava incansavelmente a cavalo. Estima-se que ele tenha pregado mais de 40.000 sermões em sua vida.

Metodismo e Impacto Social

Diferente de outros avivalistas, Wesley era um gênio da organização. Ele não queria apenas convertidos; ele queria discípulos. Ele organizou as pessoas em "sociedades" e "classes" para oração, estudo e prestação de contas mútua.

O impacto do metodismo foi além da igreja. Wesley lutou ferozmente contra a escravidão (escrevendo sua última carta para encorajar William Wilberforce), defendeu reformas prisionais, criou escolas para os pobres e distribuiu remédios e livros. Ele ensinou aos cristãos a ética de "Ganhe tudo o que puder, economize tudo o que puder, dê tudo o que puder".

O Legado de Wesley

John Wesley morreu em 1791, aos 87 anos, deixando para trás não apenas uma denominação, mas um modelo de cristianismo vivo, disciplinado e socialmente engajado. Ele nos lembra que o avivamento começa no coração ("estranhamente aquecido"), mas deve transbordar em amor prático pelo próximo.

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